domingo, 5 de setembro de 2010

As boas mulheres, são mulheres? São chinesas?

"As boas mulheres chinesas", anunciava o livro com fontes garrafais.Em suas páginas conheci rostos tão diferentes do meu; mulheres tão diferentes das que eu conheço, mulheres que jamais conhecerei.Lágrimas que nunca escorreram em minha face molhavam suas páginas. Frustração, incerteza, autocontrole: mulher, este é teu nome?Falava-se constantemente que "mulheres são como água, os homens como montanhas". Não renego o estatuto de mulher, mas desejei por alguns instantes acrescentar-lhe elementos de montanha.Ouço constantemente falarem em construções sociais, afastamento, rigor científico... entretanto raramente escuto alguém dizer algo sobre os seres reais, vivos, desejantes e desejado. São apenas discursos banhados de demagogias, pseudoconsciências, falsos libertários.E assim, constroem celas, e com sorrisos no rosto afirmam que em suas grades há liberdade.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Escrevi alguns desejos em um papel

mas o papel amarelou,

a traça comeu,

e mofou.

sobrando nada além de um conto sem proveito

seria isso História?

domingo, 11 de julho de 2010

Deixo aqui, um pouco de Virginia Woolf e de seu livro Mrs. Dalloway, afinal, quem poderá dizer que nunca se sentiu como Mrs. Dalloway, mesmo que não tenha ido comprar flores?
Não, agora nunca mais diria, de ninguém neste mundo, que eram isto ou aquilo. Sentia-se muito jovem; e, ao mesmo tempo, indizivelmente velha. Passava como uma navalha através de tudo; e ao mesmo tempo ficava de fora, olhando. Tinha a perpétua sensação, enquanto olhava os carros, de estar fora, longe e sozinha no meio do mar; sempre sentira que era muito, muito perigoso viver, por um só dia que fosse. Não que se julgasse inteligente, ou muito fora do comum. Nem podia saber como tinha atravessado a vida com os poucos dedos de conhecimentos que lhe dera Frãulein Daniels. Não sabia nada; nem línguas, nem história; raramente lia um livro agora, exceto memórias, na cama; mas como a absorvia tudo aquilo, os carros passando; e não diria de Peter, não diria de si mesma: sou isto, sou aquilo.
WOOLF, Virginia. Mrs. Dalloway.Trad. Mário Quintana. Editorial Bruguera Ltda. Rio deJaneiro.1972.

terça-feira, 29 de junho de 2010

O problema, não são os sons externos: carros, buzinas, vozes, choros, cachorros, .... mas sim, os ruídos internos ( ou seria isso silêncio?).

terça-feira, 25 de maio de 2010

Não culpe, criança, a palavra que nunca chegou nem o telefonema que não foi realizado, pois a vida não é feita de acontecimentos isolados, mas sim, de pequenos momentos que vão se interligando até criarem aquilo que chamamos de presente.
Você bem sabe que chorar não irá mudar o passado - o que são as lágrimas de ontem senão uma neblina da memória? - entretanto permita-se chorar, porque no fim ou você irá se afogar na amargura de seu pranto ou conseguirá forças para se levantar.

sábado, 22 de maio de 2010


Alguns olhos me observam, me julgam, me despem... e eu que sempre acreditei ser tão indefinido sou definido por esses olhares.

Por esses olhares posso ser segregado, separado para um futuro de glória no fracasso e assim serei criado, moldado, programado, acorrentado e amordaçado para bem servir ao lattes: uma vida no curriculum lattes, uma vida para o lattes.

E eu que me julgo tão livre, visto a batina preta do intelectual incorformado com o mundo, que possui milhares de livros mofando em uma prateleira, que lê literaturas subversivas de pouco acesso à " massa" acadêmica e que fica teorizando sobre aquilo que deveria ser vivido...

Enquanto isso escrevo, porque este é o meu jeito de conseguir fingir, com amargura, que nada vejo.

sábado, 1 de maio de 2010

Você não completou sua frase, nem precisava, o seu mas atingiu diretamente o meu coração.
Nem seu se foi arma ou faca. É bem provavel que tenha sido veneno que paralisou tudo por dentro e não deixou nenhuma marca de seu autor.
Não sei se perdoei, se escrevo certamente que não. Talvez fosse melhor que você saísse dessas entrelinhas - que eu saísse das entrelinhas - e falassemos de maneira clara, direta, um com o outro.
Pensando bem, é melhor não falarmos nada, e deixarmos que esse texto termine da mesma forma que começou: com reticências...

sábado, 24 de abril de 2010

Folha em Branco

Eis que é chegada a hora onde devo colocar no papel tudo aquilo que sei.
Entretanto, por mais que eu me esforce, a folha ainda permanece em branco: não há nela nenhuma frase, palavra, nem ao menos um simples traço que demonstre uma mínima tentativa de preenche-lá.
Estou tentando, estou tentando, ... o tempo passa e nada vem.
Meu coração começa a ficar acelerado, minhas mãos frias e meu pé direito não para de bater no chão. Nesse instante, já estou convicto de que o melhor a fazer é entregar assim mesmo, reconhecer que não foi possivel e ter muita fé que depois que a folha for entregue ninguém irá perguntar como foi o meu momento de reflexão individual.
Entreguei a folha, mas porque será que ela ficou em branco? Para quem seria interessante a folha permanecer em branco? E se ela não ficasse em branco, mas fosse preenchida com um conteúdo que não fosse o imposto, considerariam a folha como se estivesse em branco? Se eu enchesse a folha com a palavra branco ela permaneceria em branco? (...).
O interessante é que a folha não voltará em branco, mas sim com um número redondo escrito com caneta vermelha, bem no canto da página.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Certa vez - durante uma daquelas aulas onde supostamente há um debate, mas que na verdade não passa de um monólogo demasiadamente longo - o professor olhou para uma de suas alunas e pediu para que ela contasse aos demais o que ela compreendia por conhecimento.
A aluna, perturbada pelo pedido, tentou formular rapidamente uma resposta que podesse demonstrar toda a erudição e a maturidade que ela não possuia. Respirou fundo. Olhou para os lados. Encarou p professor e desistiu de recorrer aos autores que leu e que nunca consegiu compreender. Buscou a si mesma para responder tal questão. Se ela conseguiu se encontrar entre o emaranhado que eram os seus pensamentos, eu não sei, entretanto posso dizer quais foram as suas palavras. Intimidada e com a voz tremula, a aluna comento:
- Conhecimento é um monstro devorador. É uma serpente que aos poucos se aproxima e prepara o seu bote, pegando de surpresa a sua vitima, matando-a aos poucos com o seu veneno.
É paixão avassaladora que chega, arde, machuca e da mesma forma que veio se vai deixando apenas o que sobrou de um pobre coração.
É uma flauta enfeitiçada que através de sua doce melodia leva os enamorados para o abismo do esquecimento localizado na prateleira ao lado dos livros sobre solidão.

O professor ouviu em silêncio as suas palavras, pois existem coisas que só o tempo é capaz de explicar.