domingo, 11 de julho de 2010

Deixo aqui, um pouco de Virginia Woolf e de seu livro Mrs. Dalloway, afinal, quem poderá dizer que nunca se sentiu como Mrs. Dalloway, mesmo que não tenha ido comprar flores?
Não, agora nunca mais diria, de ninguém neste mundo, que eram isto ou aquilo. Sentia-se muito jovem; e, ao mesmo tempo, indizivelmente velha. Passava como uma navalha através de tudo; e ao mesmo tempo ficava de fora, olhando. Tinha a perpétua sensação, enquanto olhava os carros, de estar fora, longe e sozinha no meio do mar; sempre sentira que era muito, muito perigoso viver, por um só dia que fosse. Não que se julgasse inteligente, ou muito fora do comum. Nem podia saber como tinha atravessado a vida com os poucos dedos de conhecimentos que lhe dera Frãulein Daniels. Não sabia nada; nem línguas, nem história; raramente lia um livro agora, exceto memórias, na cama; mas como a absorvia tudo aquilo, os carros passando; e não diria de Peter, não diria de si mesma: sou isto, sou aquilo.
WOOLF, Virginia. Mrs. Dalloway.Trad. Mário Quintana. Editorial Bruguera Ltda. Rio deJaneiro.1972.